terça-feira, 5 de julho de 2011

Leitura em tempos de crise, com Michelle Petit, no SESC Pinheiros

Maravilhosa palestra da antropóloga francesa Michelle Petit (a esquerda), autora dos livros Os jovens e a leitura e A arte de ler, ambos da Editora 34



Leitura em tempos de crise
 com Michelle Petit (antrópologa) e Patrícia Pereira Leite (psicanalista)
05 de julho de 2011 – 3ª.feira – Teatro Paulo Autran – SESC Pinheiros – A partir de 13h
 
Segundo Michelle Petit, mediadores de leitura são os passeurs, os passadores, são aqueles que ajudam na travessia.
Atualmente, na França, há um discurso apocalíptico em todas as áreas e a leitura não é exceção.
A transmissão de conhecimento se faz no âmbito da vida.
Dois grandes assuntos:
1.       Para que serve a leitura? Qual é a importância da transmissão cultural?
2.      A importância dos mediadores
Jorge Luiz Borges (O fazedor Ragnarok)
- Criamos a esfinge no mito para lidar com nossos medos
- A Literatura nos constitui, é universal, é uma invenção poderosa e necessária para nossa sobrevivência psíquica
- Maurice Sendrak – No país dos monstros
- A narrativa existe desde o início da Humanidade
- Artistas são radares: sentem antes de saber
- A velocidade desta era demanda ainda mais narrativas
- Precisamos de histórias para a nossa saúde
- Cada um de nós recebe uma herança cultural (família, escola, etc.) que será articulada ao longo da vida
- Situação de crise – Situação de mudanças muito abruptas
- Crise é diferente de adversidade
Michelle: A importância da leitura
- Algumas crianças pensam na leitura como um caprico da escola o qual eles precisam se submeter
- A leitura tem sido abordada de forma muito pragmática por professores, bibliotecários e gestores públicos
- Um mau aluno pode ser um bom leitor?
- A leitura pode quebrar o determinismo social
- Adolescentes que diversificam suas leituras tornam-se bons alunos
- Uma boa leitura(familiaridade com a escrita) determina o sucesso na escola e no trabalho
- Para muitos adolescentes o discurso pró-leitura é vista como uma intrusão dos adultos
Patricia:
- A aprendizagem é um processo que tem desafios e angústias
Michelle:
- O discurso de pais e professores enfatiza o prazer de ler
- Além das necessidades escolares e profissionais, há a necessidade existencial
- O conceito de leitura precisa ser mais amplo do que a academia ensina
- Crise: Há uma crise de referência
- Dar sentido a sua própria vida (verdade interna, ser mais sujeito de sua própria história)
- A leitura é mais do que  a adequação à escola e ao mercado de trabalho, é mais do que o prazer
- A leitura é o espaço individual, é o habitat, é o lar, o asilo, o país, o refúgio
- Ler é abrir o próprio espaço, pois o ser demanda o seu próprio espaço
- A leitura é o espaço vasto, é o abrigo, é o esconderijo
- A leitura é a interioridade, é a criação de espaços de constituição de si mesmo, é o salto para outros lugares, é a casa emprestada num momento de crise
- Na biblioteca de Medellin há a experiência de leitura de contos para crianças e jovens da periferia da cidade: mesmo diante do barulho de tiros, as crianças e jovens queriam saber o final da história
- Todos os que vivem precisam do abrigo da cultura, que é a segunda pele da alma
- Na Patagônia há os Cafés literários e os ateliês (oficinas) de leitura e escrita: ler e escrever é entrar em contato e em acordo com o mundo
- A leitura é um tempo para si, em contraste com o tempo da TV, do videogame
- A leitura é um abrigo para se recompor (aí a Patricia cita que quando está muito estressada, ela lê um romance policial, em que ela mergulha e sai da leitura recomposta)
- Construção de afetos leva tempo, assim como a leitura
Abrigo das narrativas:
- Ajuda na saúde  psíquica
- Resgate de um tempo entre passado, presente e futuro
- Tempo particular da leitura (o tempo da leitura propriamente dita é diferente do tempo da lembrança do que foi lido)
- Ler serve para constituir uma reserva poética e selvagem, pequenos quartos onde narramos nossas histórias
- A leitura tem um efeito psíquico posterior ao ato da leitura
- Mais que um livro, é a lembrança do livro que conta
- Esquecemos da história para recriá-la
- Uma criança recompõe a leitura
- Nossa sede de palavras é tal que parece que ler serve para encontrar fora de si os capítulos difíceis de nossa história, a partir de uma escavação do inconsciente
- A leitura é uma exposição, é entrar em contato com um mundo muito maior do que eu
- A leitura é uma identificação com a imensidão
- Crise pessoal é um crescimento
- A leitura é uma transmissão de cultura: eu te apresento o mundo
- Literatura é exercitar a interioridade, é por a mente em movimento
- Oficinas de leitura e escrita na Colômbia: a literatura está mais próxima da vida do que da Academia
- Os escritorse levam tempo para dar sentido às situações da vida
- A leitura dá legibilidade à vida, é uma metáfora da própria vida
- A leitura desperta pensamentos, abre os olhos, sugere, desperta, inspira
- Uma experiência no interior de Minas Gerais mostra que a leitura da escrita faz a população relembrar-se de todo o seu repertório oral, como narrativas, receitas, etc.
- Nem sempre a leitura é sinônimo de ascensão social, mas sim do reencontro consigo.
- Leitura: meio de reavivar, é uma forma de viver mais poeticamente
- Mediação é trabalhar para construir pontes, é democratizar o ecletismo das práticas culturais
- Para mediar a leitura não basta ter talento e vocação, é preciso querer e esforçar-se para ser
- Mediação é um processo cujo resultado é imprevisto
- Não se atenha tanto nos bons resultados
Após a palestra de Michelle Petit e Patrícia Pereira Leite tivemos um intervalo com café e biscoitos
Na segunda parte tivemos o depoimento de duas jovens do grupo de mediação Fiandeiras, da favela Real Parque, o tempo para 
perguntas e considerações.
 

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