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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

As três perguntas, de Jon Muth, baseado em conto de Liev Tolstoy


http://didyouknowfacts.com/books-will-teach-kids-kind/ - acesso em 29.janeiro.2017



MUTH, Jon; ilustrações do autor;  As três perguntas: baseado numa história de Liev Tolstoy. New York, Scholastic, 2002. 32p.

Tradução livre desta que vos escreve em fevereiro de 2017

***********************

Era uma vez um garoto chamado Nikolai, que às vezes se sentia incerto acerca do modo certo de agir.
Eu quero ser uma boa pessoa – Disse ele a seus amigos – Mas nem sempre sei a melhor maneira de agir.
Os amigos de Nikolai compreenderam-no e quiseram ajudá-lo.
Se apenas eu pudesse achar as respostas para as minhas três perguntas – continuou Nikolai – Então eu sempre saberia o que fazer.

1. Qual é o melhor momento para agir?
2. Quem é a pessoa mais importante?
3. Qual é a coisa certa a fazer?

Os amigos de Nikolai consideraram sua primeira questão.
Então Sonia, a garça, disse:
Para saber o tempo certo para agir é preciso planejar antes.
Gogol, o macaco, que havia escavado entre as folhas para achar algo bom para comer, disse:
Você saberá quando agir se você observar e prestar bastante atenção.
Então Pushkin, o cachorro, que estava dormindo, rolou e disse:
Você não pode prestar atenção em tudo. Você precisa de um bando de amigos para manter a vigiância e te ajudar a decidir quando agir. Por exemplo, Gogol, um coco está prestes a cair em sua cabeça!

Nikolai pensou por um momento. Então fez sua segunda pergunta:

Quem é o mais importante?

Aquele que está mais próximo do ceu – rodopiando até lá.
Aquele que sabe como curar os doentes – disse Gogol, apalpando sua cabeça arranhada.
Aquele que faz as regras – rosnou Pushkin.

Nikolai pensou mais um pouco. Então ele fez sua terceira pergunta:

Qual é a coisa certa a fazer?

Voar – disse Sonia.
Divertir-se o tempo todo – riu Gogol.
Lutar – latiu Pushkin.

Então o garoto pensou por um longo tempo. Ele amava seus amigos e sabia que todos eles tentavam seu melhor para ajudá-lo a responder suas questões. Mas suas respostas não pareciam muito certas.

Então teve uma ideia:
Eu sei! Eu vou perguntar ao Leo, a tartaruga. Ele já viveu muito tempo. Certamente ele saberá as respostas que procuro.

Nikolai subiu sozinho às montanhas onde Leo vivia. Quando ele chegou, achou-o cavando um buraco no jardim. Leo era velho e cavar era difícil.
Nikolai disse:
Eu tenho três perguntas e vim para pedir sua ajuda.

1. Qual é o melhor momento para agir?
2. Quem é a pessoa mais importante?
3. Qual é a coisa certa a fazer?

Leo ouviu atentamente, mas só sorriu. Então ele voltou a cavar.
Nikolai disse:
Você deve estar cansado. Deixe-me ajudá-lo.
A tartaruga deu-lhe sua pá e agradeceu a ele.

E porque era mais fácil para um garoto cavar um buraco, Nikolai assim o fez até terminá-lo.
Mas, quando terminou, ventava furiosamente e a chuva explodiu das nuvens escuras.
Enquanto eles correram para se abrigar na casa de Leo, Nikolai ouviu um grito por socorro.

Ele desceu pelo caminho até a floresta, onde achou uma panda com a pata ferida por uma árvore que tinha caído.

Cuidadosamente Nikolai carregou-a até a casa de Leo e fez uma tala para a sua perna com um bastão de bambu.

A tempestade continuava, dava para perceber pelo barulho nas portas e janelas.
A panda acordou e disse:
Onde estou? Onde está o meu filhote?

O garoto saiu correndo e desceu pelo mesmo caminho que levava à floresta. O barulho da tempestade era terrível. Avançando contra o vento uivante e a chuva que o encharcava, ele correu para dentro da floresta. Lá ele achou o filhote da panda, molhado e tremendo de frio.

O pandinha estava assustado, mas vivo. Nikolai o carregou para dentro da casa e o secou, deitando-o nos braços de sua mãe.

Leo sorriu quando viu o que o garoto tinha feito.

Na manhã seguinte o sol esquentava tudo, os pássaros cantavam e tudo estava bem no mundo. A pata da mãe panda estava se curando direitinho e ela agradeceu a Nikolai por te-los salvo da tempestade.

Neste momento Sonia, Gogol e Pushkin chegaram para se certificar que tudo estava bem.

Nikolai seniu uma grande paz dentro de si. Ele tinha amigos maravilhosos. E ele tinha salvado a panda e seu filhote. Mas também se sentiu desapontado. Ele ainda não tinha achado as respostas para as suas três perguntas. Então ele perguntou a Leo mais uma vez.

A velha tartaruga olhou para o garoto e disse:
Mas suas três perguntas foram respondidas!
Foram?
Ontem, se você não tivesse ficado para me ajudar a cavar o meu jardim, você não teria ouvido os gritos da panda por socorro na tempestade. Então, o tempo mais importante foi aquele em que você cavou o jardim. O mais importante naquele momento era eu e a coisa mais importante a fazer era me ajudar com meu jardim.
Mais tarde, quando você socorreu a panda ferida, o tempo mais importante foi o tempo que você gastou consertando sua pata e salvando seu filhote. Os mais importantes foram a panda e seu filhote. E a coisa mais importante a fazer era cuidar deles e mantê-los seguros.

Lembre-se então de que há somente um tempo importante e este tempo é AGORA. O mais importante é sempre COM QUEM VOCÊ ESTÁ. E a coisa certa a fazer É FAZER O BEM A QUEM ESTÁ PERTO DE VOCÊ. Pois estas coisas, querido menino, são as respostas para o que é mais importante neste mundo. É por isso que estamos aqui.



quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Uma reflexão para o Ano Novo de 2013

http://everypersoninnewyork.blogspot.com.br/2012_04_01_archive.html - Acesso em 27 de dezembro de 2012


A vida é movimento, então escolhi esta imagem para ilustrar uma historinha que eu gosto muito e gostaria de compartilhar.

Feliz Ano Novo!!

Autobiografia em cinco capítulos curtos

1
Caminho pela rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio dentro dele.
Estou perdido... Estou indefeso
Não é minha culpa.
É preciso a eternidade para conseguir sair.

2
Caminho pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Finjo que não o vejo.
Caio dentro dele de novo.
Não consigo acreditar que estou neste mesmo lugar.
Ainda é preciso um longo tempo para conseguir sair.

3
Caminho pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu vejo que ele está lá.
Ainda caio dentro dele... é um hábito... mas,
meus olhos estão abertos.
Eu sei onde estou.
É minha culpa.
Saio imediatamente.

4
Caminho pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Dou a volta ao redor dele.

5
Caminho por outra rua.

Autor anônino APUD HOLLIS, James; DUARTE, Claudia Gerpe (Tradução) A passagem do meio: da miséria ao significado da meia-idade. São Paulo, Paulus, 1995. p.134 (Amor e psique)


domingo, 12 de agosto de 2012

As brincadeiras da mamãe




          Era uma vez um menino que não tinha mãe. Não é verdade que a mãe não existisse e pronto: fazia duas semanas que ela estava no hospital. Depois voltaria. Mas Lucas não sabia disso. Todos a seu redor sabiam e ninguém duvidava. Lucas, porém, sabia só uma coisa: que sua mãe havia desaparecido. Antes a mamãe estava ali perto dele, fazia a comidinha, ficava feliz a cada nova palavra que ele pronunciava, e à noite colocava o pijaminha dele. Dessas coisas Lucas se lembrava muito bem.
           Mas a mãe havia desaparecido.
           Lucas andava de cá para lá nos quartos, tentava dizer em voz alta “Peixe!”, pronunciando muito bem o “xe” final. Talvez a mamãe saísse de algum lugar para lhe dizer: “Muito bem!”. A tia, porém, que estava mexendo nas panelas lá na cozinha, foi até a porta sem saber direito o que estava acontecendo e dizia: O que é que tem o peixe agora? Onde foi que você viu um peixe?
          Lucas, de apenas dois anos, não respondia: era apenas uma palavra nova que conseguira pronunciar assim, marcante e inflamada, e que talvez tivesse o poder de fazer a sua mãe voltar.Ela – isso ele sabia – teria interrompido qualquer coisa que estivesse fazendo, teria ido até ele para abraçá-lo e dizer-lhe: “Muito bem!”, e não teria feito as perguntas da tia.
          A palavra “peixe”, porém, não lhe trouxe a mamãe.
          Nem a palavra “xerapoquê”, que, além de tudo, não significava absolutamente nada. Ou melhor, fez o papai lhe dizer com uma leve repreensão:
          --  O que você está fazendo? Você agora fala que nem um nenenzinho?
          Nesse momento, fazendo um enorme esforço na maior concentração, reunindo todo o seu mundo, Lucas fez o mais longo discurso de sua vida:
          -- Cadê mamãe?
          O pai entendeu imediatamente. O seu Lucas de dois anos estava sentindo falta da mãe.
          -- Ela está no hospital, você sabe – respondeu o pai afetuosamente, sem preocupação. – Daqui a duas semanas, ela vai voltar para casa, no máximo três. Não posso levá-lo onde ela está, porque as crianças não podem entrar e ela ainda não pode andar. Tenha paciência, ela voltará, rapazinho.
          Lucas não entendeu nada, mas para não desagradar o pai, respondeu sério:
          -- Hã, hã.
          Contudo, não conseguiu evitar um suspiro que fez o pai sorrir.
          -- Eu também sinto falta da mamãe! – acrescentou, como se estivesse falando com um “colega”.
          Lucas enfiou a cabeça entre as pernas, balançando; o pai teve certeza de que haviam se entendido.
          Conforme iam passando os dias, os traços vivos da mamãe – incrível! –se desbotavam um pouco da cabecinha de Lucas. Antes parecia escutar a voz dela, algumas vezes sentia até seu calor quando se escondia na caminha para que ela o encontrasse. Contudo, quanto mais os traços se descoloriam, mais aumentava um buraco em seu coração.
          Ele não sabia bem porque, mas pouco a pouco estava perdendo o apetite. De comilão que era, começou a ser exigente na comida: deixava quase tudo no prato, embora a tia se esforçasse em preparar-lhe comidas de que gostava.
          E sua carinha não escondia o que estava acontecendo: ficou um pouco pálido e um tanto pensativo; caso deixassem de lado a maciez de sua pele e o perfil redondinho, poder-se-ia dizer que se tratava do rosto de um adulto mergulhado sabe-se lá em quais pensamento profundos.
          -- Você está bem? – perguntava-lhe o pai.
          -- Sim – respondia Lucas, ou às vezes não respondia nada.
          Então, certo dia, ele ouviu a voz da mãe no telefone. Era ela. Era a voz dela. Se fosse um cachorrinho, Lucas, com o fone nas mãos, teria começado a abanar o rabo rapidamente de tanta felicidade. E teria erguido ao céu seus “latidos” alegres.
          Mas o menininho estava ali com o fone na mão como se estivesse encantado: arregalava somente os olhos, dois grandes olhos perdidos na felicidade, e não dizia nada.
          -- Filhote? Você está me escutando? Sou eu, a mamãe – dizia a voz. Lucas colocava o fone à orelha, como se quisesse apertá-lo e não deixá-lo mais.
          -- Lucas, meu filhote... – dizia a voz.
          -- Fale com a mamãe! – insistia o pai, também ele meio atrapalhado diante da confusão do filho. – Fale “oi” para ela!
           Lucas disse “oi” com a mãozinha enquanto olhava cada vez mais encantado o fone.
           Então o pai retomou a comunicação com a mulher, garantindo que o menino a havia escutado.
          Nesse dia, o prato ficou vazio num instante.
          No outro dia, de manhã, exatamente quando estava saindo para ir ao escritório, o pai viu uma coisa impensável: Lucas havia trepado em uma cadeira, conseguira tirar o fone do gancho que ficava na sala e estava dando uma lambidinha nele.
          -- O que você está fazendo? – perguntou admirado o pai – Por que você não está na cama com a titia?
          Em instantes, Lucas, em seu pijama, desapareceu, correu para sua caminha, ao lado da cama da titia, que ainda estava dormindo.
          Durante todo o dia, o pai ficou pensando naquela coisa estranha e não conseguiu entender.
          No dia seguinte, nova lambidinha no telefone. Enquanto isso, o rostinho de Lucas retomava a coloração normal e o ar pensativo havia desaparecido quase por completo. Se o pai conseguisse, ainda que por um momento, saber o que se passava na cabecinha de Lucas, teria percebido que as mamães podem virar aparelho de telefone.
          Melhor uma mamãe-telefone do que nenhuma mamãe.
          Tanto assim que quando, certo dia, a mamãe apareceu inteira, de pé, na porta de casa, radiante e com os braços estendidos para o seu Lucas, antes de correr-lhe ao encontro, o menino deu uma olhada para o telefone, como que dizendo: "Mas você não tinha virado telefone?”
          Foi só um instante, depois o pequeno Lucas não teve mais dúvidas e dirigiu-se ao encontro dela, balbuciando palavras incompreensíveis, brotadas de sua felicidade.
          As brincadeiras da mamãe.
          Quando voltam, porém, são mais bonitas do que antes.

ZATTONI, Mariateresa; GILLINI, Gilberto. Tradução de Euclides Martins Balancin. Sofrimento na infância: como acompanhar a criança nas perdas e dores normais de sua vida. São Paulo, Paulinas, 2004. p.23-6 (Psicologia e Educação)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O pequeno Sempreverde


          (Conto tradicional japonês, cuja transcrição para a linguagem ocidental foi feita por Lafcádio Hearn)


O pequeno Sempreverde, o lenhador, era um rapaz de vinte anos, bem apessoado e de muito bom coração. Para sua mãe, então, parecia ser o melhor dos filhos. Todos os dias, de madrugada, ia apanhar lenha nas montanhas próximas, que depois vendia no mercado da cidade e, com o dinheiro que lhe davam por ela, comprava gêneros alimentícios e roupas para sua mãe.
          Um dia,Sempreverde foi à mata com seu machado, quando, repentinamente, por ele passou um tufão com tal fúria, que o atirou para fora do caminho. Lutando com o vento como se este fosse uma pessoa viva, atirou-lhe uma machadada conforme pôde. Logo sentiu a impressão, bastante estranha, de ter atingido alguém, principalmente depois de ter visto algumas manchas de sangue caminho adiante. Guiado por esse rastro, foi dar a um grande buraco na terra, tão grande que não se via o fundo. Deixou cair nele uma pedra, porém, só passados longos segundos pode ouvir o fraquíssimo ruído desta quando do embate.
          – Pode viver neste lugar algum demônio – sussurrou de si para consigo.
          Meditando, voltou para trás e dirigiu-se à cidade. Na praça pública havia grande algazarra de conversas e exclamações em redor de alguém que estava afixando na parede um edital com estas horríveis notícias: «Hoje, enquanto a Princesa passeava no jardim real, foi raptada por uma súbita rajada vento, e desde então ninguém mais soube dela. O Rei e a Rainha estão tristíssimos. Por ordem do governo faz-se pública a notícia deste infausto acontecimento a todos os cidadãos e cidadãs, esperando que alguém traga novas que ajudem a reaver a nossa querida Princesa. Ficam a apresentarem-se no Palácio Real todos quantos tiveram qualquer aventura com o vento.»
          Sempreverde foi à presença do Rei dando-lhe conta do que lhe sucedera a caminho do bosque. Em recompensa das suas informações, o Rei deu-lhe 100 onças de ouro. E feliz e contente, o jovem lenhador levou o dinheiro a sua mãe.
          – Onde arranjou isso? – perguntou-lhe ela, surpreendida.
          Sempreverde contou-lhe toda a história do que se passara. A mãe profundamente comovida com as notícias acerca da Princesa e, com pena do Rei e da Rainha, disse:
          – Querido filho, procedeste honradamente em benefício da pobre Princesa. Mas será possível ao nosso Rei, que tanto tem feito por nós, recuperar a sua filha?
          – Não me convenço disso – foi a resposta do rapaz.
          – Vai, faz o possível para trazer a Princesa – disse ela –, e me dará uma grande felicidade.
          Sempreverde pensou um pouco no caso. Nada lhe teria dado maior prazer que restituir a Princesa a seus pais, mas a aventura parecia-lhe cheia de perigos. E, sem ele, que havia de ser de sua mãe?
          – Não tenhas receio, meu filho – disse-lhe esta. – Deus nos protegerá.
          Antes que Sempreverde voltasse ao palácio do Rei, este publicou um pregão à procura de um homem destemido que quisesse penetrar na grande cova e salvar a Princesa de qualquer perigo que ela pudesse correr. Ninguém se adiantou com propostas de auxílio, apesar de haver, nessa ocasião, duras competições entre os rapazes por causa da mão da Princesa, e de um deles, chamado Wusan, que tinha de si próprio uma lisonjeira opinião, haver sempre dito que ia casar com ela. Sempreverde foi ter com o Rei, oferecendo-se para fazer o que o outro não fizera.
          Muito comovido, o Rei disse-lhe:
          – Meu rapaz, possivelmente caminhas para a morte.
          – Eu, com tudo quanto é meu, sou propriedade do Rei e da Nação – foi a resposta do rapaz.
          Uma grande multidão acompanhou Sempreverde até ao bosque. Instalaram o cabrestante por cima do buraco, com uma corda em volta da roldana. Da extremidade da corda pendia um grande cesto com campainhas. Quando Sempreverde chegasse ao fundo da cova, tinha que dar três sacudidelas na corda e outras três quando estivesses pronto a subir.
O rapaz, armado com seu machado, meteu-se no cesto que foi então vagarosamente descido no escuro buraco, com grandes exclamações de todos. Por baixo de Sempreverde, tudo era absoluta escuridão. Sobre ele, o céu, visto pelo orifício do poço, parecia uma pedra preciosa, branca e brilhante. Quando Sempreverde sentiu outra vez terra firme, a redonda pedra preciosa tinha-se tornado vermelha de fogo, do sol que caía no ocidente. Deu três sacudidelas às campainhas e, deitando um rápido olhar à sua volta, viu que estava num local úmido, de cujo chão vinha o mais desagradável dos cheiros. Quando os olhos se lhe habituaram à escuridão, viu, à distância, qualquer coisa como uma bandeja de prata: era um longo caminho circular através da terra que se abria diante dele.
           – Pode ser que eu esteja noutro planeta – pensou o moço lenhador, que tomou a luz redonda por um sol.
          Logo prosseguiu sem receio e, quanto mais caminhava, maior a luz parecia tornar-se.                               Quando chegou ao fim do caminho, Sempreverde ficou sem ver coisa alguma, porque havia uma luz brilhante, proveniente duma grande pedra preciosa, redonda como a Lua e fixa num alto rochedo. Não longe dela, um belo palácio com um telhado pontiagudo de ouro polido surgiu-lhe diante da vista.
          Sempreverde entrou nesse estranho palácio. Atravessou formosos jardins e grandes salas deslumbrantemente decoradas. As paredes eram cravejadas de pedras preciosas. Tudo lá dentro tinha um aspecto estranho e irreal. Não se via de onde provinha a luz e parecia não viver ninguém ali.
          Sempreverde estava agora ficando seriamente atrapalhado, quando, de súbito, chegou aos seus ouvidos um abafado suspiro de angústia. Quase sem respirar nem fazer ruído, percorreu um corredor que o conduziu a uma cozinha. E que viu ele na sua frente? A boa Princesa, de rosto pálido e enfermo, diante do forno, cozinhando num tacho de bronze de elegante desenho. Quando o viu entrar, uma expressão de alegre surpresa lhe apareceu no rosto. Depois de lhe ter feito as suas reverências, Sempreverde quis dizer-lhe quem era, mas a Princesa, por gestos, ordenou-lhe com ar de autoridade que ficasse calado, e levou-o para outro aposento, a alguma distância dali.
           – Conta agora o que pensas fazer – disse a Princesa, com a fisionomia transfigurada pela esperança.
          Sempreverde disse-lhe como se chamava, e contou-lhe o que se passara depois de ela ter sido roubada. A Princesa ficou bastante comovida ao saber dos cuidados de seu pai e de sua mãe.
          – Se me restituíres a eles – disse, a minha dívida para contigo será enorme.
Sempreverde prometeu-lhe que, apesar do perigo, havia de levá-la dali.
          – Estamos no palácio de um estranho demônio – disse ela tristemente –, tão cruel e violento, que todos os seus criados fugiram. Puderam fugir porque têm asas; eu, porém, não as tenho. O demônio vigia-me dia e noite, e obriga-me a fazer todo o seu árduo trabalho. Agora, foi ferido por um lenhador e ficou muito maldisposto. Quando está encolerizado, eu fujo dele a sete pés.
          Nesse momento ouviram um forte ruído, e a Princesa soltou um grito de susto.
          – Onde está essa maluca? – Era a voz colérica do demônio. – Ainda está fazendo a comida, e eu aqui todo este tempo à espera! Ora, eu a ensinarei a trabalhar mais e melhor!
          – Oh, afasta-o de mim – pediu a Princesa, enlaçando com os braços o jovem lenhador.
O demônio irrompeu no aposento, soprando raivosamente como um furacão. Na sua cara verde e amarela, os olhos eram brilhantes e luzidios como metal.
Tinha dentes desumanos como um javardo e garras longas e aguçadas como espadas. Foi direito à Princesa, tentando apanhá-la, mas as unhas prenderam-se na seda do vestido. Sempreverde levantou ao ar o machado e, descarregando-o com toda a força, deu-lhe tal golpe, que a lâmina o atravessou de alto a baixo, e o demônio rolou, imóvel, no chão.
A Princesa perdera os sentidos. Voltou a si com a ajuda de Sempreverde, mas sentindo-se ainda tão abalada, que não era capaz de suster-se nas pernas.
          – Permiti que vos dê o braço, formosa Princesa – disse ele, com profundo respeito.
Saíram do palácio e voltaram até ao fundo da caverna. Desta vez, a distância pareceu muito mais curta a Sempreverde. A sua satisfação por ter vencido o demônio e salvar do perigo a Princesa tornava-o alegre e feliz.
Quando chegaram ao buraco, a Princesa saltou para o cesto e convidou Sempreverde a meter-se também lá com ela.
          – Mas a corda não é suficientemente forte para poder com ambos – observou ele –, e Vossa Alteza tem o privilégio de subir em primeiro lugar, pela sua mais alta categoria.
Mostrava-se tão sem medo ao perigo e tão amável, que a Princesa se comoveu profundamente, dizendo-lhe quanto era grande a sua dívida para com ele, e que, decerto, se casariam quando tivessem acabado aquelas atribulações.
          – Ah! – disse o rapaz, duvidando dos seus ouvidos. – Vós quereis casar comigo, que sou apenas um rachador de lenha?
          – Ainda que não sejas de alto nascimento – foi a resposta da Princesa –, o certo, é que tens o coração de um grande homem. Toma este vestido de seda que tornou possível a tua vitória sobre o demônio. Será a prova do nosso ajuste, para o recordarmos até nos tornarmos a ver.
          Sempreverde deu três campainhadas, e o cesto foi içado.
          A Princesa, agitando os braços, tocou com as mãos nos lábios e atirou-lhe um beijo. E ele teve quase a certeza de que, ao mesmo tempo, lhe chegaram suavemente aos ouvidos estas palavras:
          – Tu és o meu amor.

***
          Umas vezes esperançados e outras receosos, o Rei e a Rainha puxavam a corda ao mínimo sinal de movimento. Pareceram-lhe longuíssimos os minutos. Ao ouvirem as campainhas, prosseguiram, entusiasmados. Todos quantos viviam na cidade ali tinham vindo com as suas melhores habilidades para divertir a Princesa. Por fim, ela apareceu. O Rei e a Rainha estavam completamente dominados pelo contentamento. Rindo e falando, tomaram a filha nos braços.
          – A Princesa está salva! – Diziam de todos os lados, soltando exclamações. – Viva Sempreverde!
          O Rei ordenou que o feliz sucesso fosse assinalado com um dia de folga e divertimento geral. A única pessoa infeliz, nesse momento, era Wusan. Posto que fosse filho de um homem poderoso, tinha poucas probabilidades de vir a ser amado pela Princesa. Só queria saber de si próprio, sem jamais pensar no bem dos outros. Era mesquinho e cheio de manhas desagradáveis.
          – Sempreverde tomará o meu lugar, se o não afasto do meu caminho – pensou Wusan.
Foi ao buraco, desfez o nó da corda em volta da roldana quando Sempreverde ia subindo no cesto, e atirou para dentro da furna uma peça de fogo de artifício, o qual ribombou, saindo de lá um tal barulho e uma luz tão brilhante, que toda gente se convenceu de ser o demônio que voltava para se vingar; e assim, fugiram todos com medo, sem pensarem mais em Sempreverde.
           Toda a noite Sempreverde esteve tristíssimo: a queda não fora muito grave e não ficara ferido. Mas perdera as esperanças de tornar a ver o dia. Por cima da sua cabeça, a abertura da caverna parecia um rubi vermelho-escuro e, pela madrugada, uma safira azul. Naquela triste situação, não lhe valia de nada abanar as campainhas e gritar.
          – Deve haver outra saída – considerou, de repente, de si para consigo.
          E voltou ao estranho palácio. Que era aquilo? De algum lugar, muito próximo, chegou até ele um grito de aflição.
          – Acode-me Sempreverde! Acode-me!
          A voz era fraquíssima. O lenhador chegou ao pé de uma grande porta chapeada de bronze, fechada por um enorme ferrolho. De novo lhe chegou a voz aos ouvidos. Rapidamente, desaferrolhou a porta. Diante dele estava uma estreita prisão subterrânea, de onde pendia um grande dragão amarrado, pelos pés, à parede.
           – Liberta-me, Sempreverde, e serás recompensado pelo teu trabalho – lhe garantiu o bicho.
          Com grande cuidado, Sempreverde desprendeu-lhe os feridos pés e logo viu à sua frente um formoso rapaz que lhe contou a história das suas aventuras.
          – O meu pai é o Rei do Mar. Como a Princesa que por tua intervenção, está agora a salvo, também eu fui feito prisioneiro pelo demônio que mataste. Ontem, quando te aproximavas desta porta, ao ouvir as tuas passadas, dei um grito. Mas os teus pensamentos eram todos para a encantadora Princesa. Fiquei outra vez sem esperança, até que o ruído dos teus passos voltou. Meu senhor Sempreverde, lembrar-me-ei sempre de ti, que me libertaste da prisão. Ser-me-ás tão querido como meu pai e minha mãe, porque a existência que eles me deram primeiro, voltas tu, agora, a dar-ma. Andava brincando alegremente pelo mar – prosseguiu –, e eis senão quando, veio sobre mim o demônio, bradando: «Alcança-me um pouco daquela bebida que faz viver eternamente. O teu pai tem, num sítio qualquer do palácio, uma garrafa cheia dela!» Como não lhe quis revelar o segredo do lugar onde ela estava guardada, o demônio, furioso, prendeu-me com as suas mãos de garras enormes e fez-me sofrer este humilhante castigo que presenciaste.
          – Sinto-me muito feliz por ter vindo acudir-vos – disse Sempreverde – mas parece-me que há poucas esperanças de sair daqui, porque não encontro meio algum.
          – Deixa-me ver, primeiramente, onde há água – disse o Princípe do Mar. – Isso simplificará mais as coisas.
          Na parte de trás do palácio viram um grande jardim com um tanque de água. Ao tocar nela, o Príncipe voltou à sua primeira forma de dragão, e, de súbito, transformou-se numa nuvem de diferentes cores.
           – Suba nas minhas costas – disse ele a Sempreverde – e deixa estar os olhos fechados até que possamos chegar ao nosso destino.
           Sempreverde assim fez, sentindo como que um furacão soprar-lhe rudemente aos ouvidos. Primeiramente, teve a sensação de subir, depois de descer. Quando tornou a abrir os olhos, viu que estava numa grande extensão de areal. Diante dele achava-se o mar azul.
          – Onde estamos? – Perguntou, surpreendido.
          – Nos meus domínios – foi a resposta do Príncipe. – E levo-te à presença de meu Pai, que terá extraordinário prazer em saber o que fizeste por mim.
         A princípio, Sempreverde não queria ir, receando que sua mãe pudesse estar em aflições, à sua espera. Mas o Príncipe cumpriria a sua palavra. Viu então abrirem-se amplamente as vagas e aparecerem, entre as duas paredes de água, degraus de polido mármore branco. Os dois amigos desceram-nos. Ao fundo da escada, havia uma grande porta e, na empena, em letras de ouro, estas palavras:
PAÇOS DO REI DO MAR
           As paredes do palácio eram brilhantes como joias. Dois grandes peixes azuis estavam de sentinela à porta. Quando viram aproximar-se gente, avançaram para ver quem era, voltando logo para trás, como costumam andar os peixes na água, para trás e para diante. Dentro do palácio dançavam rapazes e moças, iguais às sentinelas, mas com a única diferença que estes tinham cauda como os peixes e outros animais marinhos. Alguns deles saíram a dar a notícia do regresso do Príncipe.
          O velho Rei do Mar, com a sua longa cauda entrançada em anéis, desceu do seu alto trono com delicadas palavras para Sempreverde.
          – É natural que o vosso principal desejo seja ver a vossa mãe – disse ele –, e portanto não quero reter-vos muito tempo no meu palácio. Deixai-me somente dar-vos qualquer coisa como recompensa.
          E, a uma ordem do Rei, avançou um grupo de ostras com cofres cheios de pérolas e pedras preciosas de grande valia, mais belas que todas quantas jamais tinham visto as maiores princesas da terra.
          – Não as aceiteis – disse, em voz baixa, o Príncipe, ao seu amigo. – Pede antes a Maçã de Ouro que está ao lado Rei. Vale mais que todas as joias ou que a maior riqueza, pois te dará tudo quanto desejares.
          Com profundo respeito, Sempreverde recusou todas as oferas do Rei do Mar.
          – Se não há aqui nada do vosso agrado – disse o Rei – então, que posso eu oferecer-vos?
          – Ó grande Rei – respondeu Sempreverde –, far-me-eis muito feliz, se me désseis a Maçã de Ouro.
          – Aqui a tendes – disse bondosamente o rei do Mar. – Não há nada com que eu não ficasse satisfeito de vos dar.
          O jovem Príncipe conduziu até à borda do mar o seu amigo.
          – Vamos separar-nos, querido Sempreverde – disse meigamente. – Entristece-me muito isto, pois nunca mais nos veremos, mas saberei novas do que te acontecer. Esta maçã satisfará todos os teus anseios. Basta dizer «Querida Maçã, dá-me isto, dá-me aquilo», e todos os teus pedidos serão realizados.
E, com estas palavras, o jovem Príncipe mergulhou outra vez no mar.
           – Querida Maçã de Ouro – foi o primeiro pedido de Sempreverde –, dá-me um carrinho que me leve até casa de minha mãe. E, num instante, apareceu no areal uma carruagem com asas. O jovem lenhador subiu para ela e foi navegando, como um pássaro, entre as nuvens do céu.
           A Princesa estava inconsolável com a perda de Sempreverde e dizia para consigo que havia de lhe ser fiel, esperando pelo seu regresso.
           – Ou casarei com Sempreverde, ou com ninguém – disse, com firmeza na voz, ao pai e à mãe, quando eles tentaram decidi-la a escolher outro homem. Ela e a mãe do lenhador passavam agora muito tempo juntas, consolando-se uma à outra da perda do mesmo ser amado. Grande foi, por conseguinte, a sua surpresa ao ver, um dia, descer do céu uma carruagem com asas. E, quando viram sair de lá Sempreverde, não lhes parecia possível que estivessem verdadeiramente acordadas. O rapaz abraçou a sua mãe, que o cobriu de beijos e afagos.
           – Que excelente filho! – disse a Princesa consigo. – Com certeza que há de fazer-me muito feliz, se eu casar com ele.
          Sempreverde foi à presença do Rei e da Rainha, de todos os principais dignitários e de todo o povo, e contou-lhes as suas aventuras e o estranho modo por que o cesto despencara. Era crença geral que tinha sido obra de alguma pessoa ruim. O falso namorado da Princesa estava agora cheio de vergonha. Sempreverde, querendo saber ao certo quem lhe tinha feito a partida, perguntou à Maçã:
           – Minha querida Maçã de Ouro, quem foi o autor daquela maldade?
          Wusan adiantou-se e, ajoelhando perante o Rei, confessou:
          – Fui eu que desfiz o nó e atirei para dentro do buraco uma peça de fogo de artifício para vos fazer abandonar Sempreverde. Ao ouvir aquilo, o Rei ordenou que Wusan fosse decapitado. Mas Sempreverde disse que tinha um grande desejo de punir ele próprio Wusan, e o rei autorizou-o a fazê-lo.
          – Minha querida Maçã de Ouro – pediu Sempreverde –, faz com que o infortunado Wusan dê mostras de vergonha pelo que fez. Imediatamente Wusan, profundamente comovido, rogou a Sempreverde que o deixasse ir embora em liberdade, ao que o bondoso Sempreverde concordou, sem mais
nenhum argumento.
           A Princesa e Sempreverde casaram nesse mesmo dia. Toda a cidade e o Palácio do Rei foram belamente enfeitados e, à noite, iluminados com balões de cores. Sempreverde pode dar à família da Princesa presentes como nenhum filho de Rei podia permitir-se. Agora, que era o dono da Maçã de Ouro, ninguém tinha fortuna nem joias iguais às dele. A própria Princesa parecia completamente pobre comparada com Sempreverde. Toda a nação tomou parte no auspicioso acontecimento: dia e noite, houve todas as espécies de folguedos, e toda a gente estava contente, até Wusan, que parecia o mais satisfeito de todos. A mãe de Sempreverde foi acolhida pelo Rei e pela Rainha, mas o mais feliz de todos era o próprio Sempreverde: o mais adorado ornamento dos seus aposentos particulares era o vestido de seda que a Princesa lhe dera em memória do grande feito dele e do seu fiel amor.

domingo, 3 de junho de 2012

O agradecimento da cegonha

http://jwanted.forumotion.net/t1880-historias-japonesas - Acesso em 03 de junho de 2012 - Com adaptações.



Era uma vez um casal de idosos que moravam numa aldeia. 
Um dia, quando o velhinho passeava, viu uma cegonha que estava com dores. Ela tinha caido numa armadilha. O velhinho teve pena e libertou-a. Ela ficou muito feliz e voou pelo céu.
Em casa, disse à esposa que tinha salvo a cegonha. Ela elogiou-o e nessa altura, alguém bateu à porta. O velhinho a abriu e viu uma moça muito linda. Nevava lá fora. A menina disse que se tinha se perdido e perguntou se podia ficar lá na casa do casal . Eles ficaram com pena e aceitaram.


Mas, como no dia seguinte ainda estava nevando, a moça ficou mais tempo, e ela ajudava muito o velho casal. Lavava roupa, limpou a casa e fez-lhes massagens. Passados 3 dias, a moça disse que queria ser filha deles. Eles ficaram muito alegres e a aceitaram.


Ela trabalhava cada dia mais e mais.


Um dia ela pediu ao velhinho para ir à cidade e comprar uma agulha e fio. Ele as comprou e as entregou.

- Agora eu vou fazer algo no quarto. Enquanto estiver lá, não entrem e não olhem lá para dentro, de maneira nenhuma. - disse a filha.


Durante 3 dias, os velhinhos não entraram no quarto. Quando a moça apareceu, parecia muito cansada. Tinha um tecido bonito nas mãos e pediu ao velhinho para vendê-lo. Ele foi à cidade, vendeu-o e ganhou muito dinheiro. Ficou muito feliz, comprou mais fio, uns presentes para a filha e para a esposa e voltou para casa.


A filha fez um tecido mais uma vez. Era ainda mais bonito que o anterior.
- Nunca vi uma coisa tão bonita! - disse o velhinho.
Como ele o vendeu ao SHOGUN, ganhou muito dinheiro e comprou muitos presentes para a família e mais fio para a filha.


Um dia, quando ela estava no quarto, a velhinha quis olhar para dentro. O marido pediu-lhe para não olhar porque tinham prometido, mas ela abriu um pouco a porta e espreitou.
Lá dentro, estava uma cegonha. Estava tirando as penas de seu próprio corpo para tecer o belo tecido. Como tinha tirado as penas, estava quase nua. A velhota ficou surpreendida e fechou a porta. Imediatamente, a moça saiu do quarto.


Ela tinha um tecido lindo e comprido nas mãos.


- Que pena! Queria ficar com vocês para sempre, mas como já sabem o que
eu sou, não posso mais ficar aqui. Eu sou a cegonha que o senhor salvou naquele dia.
Muito obrigada por tudo. Tenho de sair agora. - disse ela.


Os velhinhos choraram e quiseram fazê-la desistir de sair, mas ela transformou-se em cegonha e voou para o céu.


Graças ao tecido que a cegonha tinha deixado, os velhinhos viveram felizes.

domingo, 20 de maio de 2012

A raposa barbeira


http://www.nipocultura.com.br/?p=228  - Acesso em 20 de maio de 2012
No folclore japonês, a raposa e o texugo eram considerados ilusionistas e viviam pregando peças. Conta uma antiga lenda que, nos arredores de uma pequena cidade, vivia uma família de raposas. Elas eram famosas pelo modo original de iludir as pessoas. Muito criativas, ninguém conseguia escapar de suas artimanhas.
Uma dessas raposas transformava-se em um homem barbeiro e deixava careca todos os clientes que o procuravam para fazer penteados ou aparar os cabelos. Assim, todos os homens da cidade ficaram de cabeças raspadas. Por isso, o animal encantado acabou ganhando o apelido de kitsune tokoya, ou seja, “raposa barbeira”.
Certo dia, houve na casa do conselheiro da cidade uma reunião para por fim àquela situação. Afinal, numa época em que os penteados estavam na moda para homens em todo o Japão, não era admissível que só aqueles da pequena cidade não pudessem andar de cabeça erguida. Apesar de haver unanimidade na decisão de fazer a raposa parar com a brincadeira, ninguém tinha sugestão de como fazer isso. Então, descobriram que, entre todos os homens da cidade, havia um que ainda mantinha seu belo penteado. Era um samurai jovem e esperto chamado Saizoemon. Diziam que seu único defeito era ser convencido.
Assim, o conselho de cidadãos resolveu chamá-lo para saber como havia conseguido safar-se da ardilosa brincadeira da raposa barbeira.
Chegando ao local da reunião, o samurai foi logo dizendo:
– Sabem por que se deixaram enganar por uma raposa? Simples, porque vocês são tolos. Sendo assim, não adianta ficar discutindo o dia todo, porque não vão chegar a conclusão alguma. No entanto, eu sei como dar um jeito. Então, o que estão esperando? Admitam a incompetência e me implorem para castigá-la.
Apesar de a arrogância irritar os presentes, ninguém viu outra alternativa senão pedir humildemente para que Saizoemon desse um jeito na atrevida raposa.
O samurai pegou uma lança e foi para o bosque, onde todos diziam que havia esconderijos de raposas. Quando caminhava por uma trilha entre árvores de pinho, cruzou com uma bela garota de olhar malicioso, que o cumprimentou:
– Boa tarde, Saizoemon, está passeando pelo bosque? O samurai logo desconfiou que era um truque ilusionista da raposa e atacou com sua afiada lança. A moça, assustada, esquivou-se do golpe deixando aparecer uma cauda branca.
– Eu tinha razão, sua raposa safada. Agora, você não vai escapar de meu golpe – assim dizendo, atacou a raposa, que voltou ao seu formato e fugiu apavorada.
Vitorioso na primeira investida, ele ficou mais convencido de sua esperteza e foi caminhando mata adentro.
Numa clareira do bosque, viu outra mulher que parecia estar descansando. Logo desconfiou de que se tratava de outra raposa.
Assim que a mulher saiu andando, ele a seguiu, escondendo-se atrás das árvores enquanto a observava.
Num momento, a mulher agachou e juntou um punhado de capim seco. Dobrou os capins e, com eles, fez um boneco.
Saizoemon segurou a respiração e observou atentamente.
A mulher esticou os braços levantando o boneco e assoprou com força. Como num passe de magia, o boneco ganhou vida, transformando-se num bebê humano. Embora espantado, o samurai não tinha mais dúvida de que se tratava de uma raposa.
Com o bebê no colo, a mulher entrou na casa de um lenhador e foi recebida por uma velhinha com grande alegria.
– Nossa – pensou Saizoemon – a raposa está tentando enganar a pobre velhinha. Preciso agir imediatamente. Assim dizendo, adentrou a casa derrubando a porta com o pé. Encostando a lança no pescoço da mulher, ele disse:
– Cuidado, minha senhora, esta raposa está tentando lhe enganar. Este bebê é um punhado de capim seco, vi com meus próprios olhos quando ela fez a magia – dizendo isso, o samurai apanhou uma corda e amarrou a mulher. A velhinha, que não estava entendendo nada, protestou:
– Senhor samurai, o que está fazendo com a minha nora, o senhor é um maluco?
– Santa ignorância a sua, minha senhora! Será que não percebe que esta é uma raposa astuta?! Fique olhando calada que vou provar o que estou dizendo.
– Pare, senhor, está completamente enganado. Meu neto não é um punhado de palha. Veja, é uma criança de carne e osso.
– Minha senhora, quando uma raposa se faz passar por gente, para quebrar o encanto, é necessário fazer fumaça com folha de cedro. Assim que a fumaça encobrir a raposa encantada, logo aparece um rabo branco e, depois, ela volta ao seu formato original.
Assim dizendo, Saizoemon arrastou a mulher amarrada para fora da casa, fez um monte de folhas de cedro e botou fogo para fazer fumaça.
A velhinha gritava desesperada para que Saizoemon parasse com aquele ato bárbaro.
– Por favor, pare com isso, o senhor vai matar a minha nora, a mãe de meu querido netinho.
Sem se importar com as súplicas da velha senhora, o samurai deixou a mulher coberta de fumaças, o que provocou muitas tosses.
– Não se preocupe, senhora, assim que quebrar o encanto, seu netinho vai voltar a ser um simples punhado de capim.
Por mais que a fumaça envolvesse a mulher, não aparecia nenhum rabo de raposa e ela continuava tossindo desesperadamente.
– Pare com isso, ela está morrendo, não está vendo o mal que está fazendo?
Saizoemon não parava. Estava convicto que aquela era uma raposa encantada. De repente, a mulher caiu e ficou esticada no chão.
– Minha nora morreu! Você matou a minha nora! Meu netinho vai ficar órfão! Quanta crueldade!
Saizoemon levou um susto. Balançou e desamarrou a mulher desesperadamente. Todas as tentativas para reanimá-la pareciam inúteis. O samurai foi tomado de um grande arrependimento e, prostrado no chão, reconheceu seu engano.
– Matei essa pobre mulher por engano. Que erro terrível cometi! Não sou digno de continuar sendo um samurai.
Nesse exato instante, apareceu um monge no local.
– O que aconteceu por aqui? Parece uma tragédia.
O samurai contou todo o seu infortúnio dizendo quanto estava pesaroso pelo imperdoável engano.
– Sua alma jamais terá paz enquanto não purificar seu espírito.
A alma da pobre mulher, morta por engano, inconformada por tamanha injustiça, não terá paz. Vai se tornar, com certeza, uma alma penada. É necessário que reze muito, mas muito mesmo, por ela. Raspe sua cabeça e torne-se um monge, assim poderá dedicar muitas orações à sua pobre alma.
Saizoemon concordou que essa era melhor solução, já que era indigno de continuar sendo um samurai. Pediu, então, ao sacerdote que lhe raspasse a cabeça e o ordenasse monge.
Atendendo a vontade do samurai arrependido, o monge raspou a cabeça de Saizoemon. Quando terminou de raspar, o monge desapareceu num passe de mágica. Não só ele como a casa, o bebê, a velhinha e a mulher que parecia morta.
Nisso, o povo da cidade encontrou Saizoemon sentado sobre uma pedra com a cabeça raspada.
– Vejam, a raposa barbeira conseguiu enganar Saizoemon também!
A raposa conseguiu iludir Saizoemon seguindo todos os seus passos. Assim, o samurai tornou-se alvo de gozação de todos na cidade, até que se tornou um cidadão humilde.

terça-feira, 24 de abril de 2012

O gênio e as rosas

(1)

     Era uma vez três homens - um ingrato, um conformado e um generoso - que foram visitados por um Gênio da Lâmpada.
     Espantados, perguntaram:
     -- Gênio, que nos trazes?
     -- Rosas! -- disse o Gênio. E abrindo seu manto mágico, dele retirou três lindos buquês de rosas, que ofereceu aos visitados, entregando um para cada.
     Antes de partir, olhou-os fixamente e, percebendo algum desapontamento por conta da simplicidade de sua oferta, justificou-se:
     -- Rosas... porque são  joias de Deus: deixam a vida mais rica e bela!
     Os homens se entreolharam surpresos e, após se despedirem, cada um seguiu seu destino, dando finalidade diferente ao presente recebido.
     O ingrato, maldizendo sua falta de sorte por haver encontrado um gênio e dele recebido apenas flores, jogou-as num rio próximo.
     O conformado, embora entristecido pela singeleza do presente, levou-as para casa, depositando-as num jarro.
    O generoso, feliz pela oportunidade que tinha em mãos, decidiu repartir seu presente com os outros. Foi visto pela cidade distribuindo rosas de porta em porta, com um detalhe: quanto mais rosas ofertava, mais seu buquê crescia em tamanho, beleza e perfume. Ao final, retornou para casa com uma carruagem repleta de rosas.
     No dia seguinte, no mesmo local e instante, os três homens se reencontraram e, de súbito, ressurgiu o Gênio da Lâmpada.
     -- Gênio, que desejas? -- disse um deles.
     -- Que as vossas rosas se transformem em joias! -- disse o Gênio -- Porque quem aceita com alegria um presente da vida, merece receber outros.
     Dessa forma, o homem generoso encontrou em casa uma carruagem repleta de joias, extraordinariamente belas, tornando-se um rico comerciante.
     O homem conformado, retornando imediatamente para seu lar, encontrou, pendurado sobre o jarro onde depositara as rosas, um lindo e valioso colar de pérolas. Sem mais nada a dizer, resignou-se e deu de presente para sua esposa.
     O homem ingrato dirigiu-se ao lugar onde jogara o buquê de rosas e viu, refletindo sobre as águas, um brilho intenso, próprio de joias valiosas, que foram imediatamente carregadas pela correnteza. (2)


3



(1) http://concurseirosolitario.blogspot.com.br/2008_03_01_archive.html - Acesso em 24 de abril de 2012
(2) COELHO, Paulo (adaptação); SOUSA, Maurício (ilustração) O gênio e as rosas e outros contos, 2a. ed., São Paulo, Globo, 2010. p.36-9.
(3) http://hana-haruko.blogspot.com.br/2011/04/o-sublime-misterio-das-rosas-gildo.html - Acesso em 24 de abril de 2012


Obs. Já ouvi esta história de outros modos, mas como encontrei registro escrito  no livro supracitado, achei melhor ir por este.
Espero que goste!!



sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O paraíso dos gatos

http://www.desktop4ipad.com/index.php/tag/japanese/ - Acessado em 27 de janeiro de 2012

Olá!
Minha primeira postagem do Baú de histórias é  uma que achei na antologia Lá vem história: contos do folclore mundial, organizada pela Heloísa Prieto, publicada pela Companhia das Letras em 1997.

É uma história do folclore japonês (tudo a ver comigo, claro).
Espero que gostem.
Resolução de ano novo: ser mais constante na pesquisa e na postagem de belas histórias.
Um abraço!!


O paraíso dos gatos
Era uma vez uma bela menina órfã que se chamava Yukiko.

Ela trabalhava na casa de uma velha terrível. Sua vida era pura tristeza, pois a menina só tinha como amiga uma gatinha.

Mas um dia a gatinha desapareceu. Yukiko chorou muito. E a dona da casa, em vez de consolar a pobre menina, dizia-lhe assim:

-- Viu no que dá se apegar aos animais? A gata te abandonou!

A menina, porém, não acreditava nisso. Sua confiança no bichinho continuava a mesma. Foi então que um adivinho pássou pela cidade. Falava-se que ele era capaz de revelar todos os segredos do mundo. Yukiko foi correndo perguntar-lhe sobre o paradeiro de sua gatinha.

-- Sua gata está na montanha dos felinos, que fica a leste daqui. Se você for corajosa e tomar cuidado, será fácil reencontrá-la – ele lhe disse.

Yukiko não hesitou. Pediu licença à patroa e partiu em busca da gata. Andou muito até chegar a uma cidade lindíssima, onde foi acolhida por outra menina, que a convidou para jantar. De início ela se sentiu feliz, mas à noite ouviu vozes estranhas que diziam:

-- Essa menina adora gatos. Vamos protegê-la. É melhor impedir que algum de nós tente devorá-la.

A menina despertou muito assustada. Que lugar era aquele? Porém, antes que ela pudesse partir, alguém bateu à porta de seu quarto. Yukiko a abriu e deu com sua gatinha, que havia se transformado em gente.

-- Minha querida amiga – disse-lhe a gata – você está no paraíso dos gatos. É um lugar perigoso para os humanos que nos tratam mal. Mas, como você sempre nos ajudou, os felinos pediram que eu lhe desse um presente.

E então entregou à amiga uma caixinha repleta de jóias e pedras preciosas. Na manhã seguinte Yukiko voltou à sua cidade. Deixou o antigo emprego e comprou uma casa. Aliás, a caixinha era mágica: as joias nunca se acabavam.

Furiosa de inveja, a antiga patroa viajou até a montanha dos felinos. Quando lá chegou, bateu à porta da mesma casa onde a menina ficara hospedada e foi logo dizendo:

-- Quero as joias também! Pois vocês, gatos, não vivem rondando a minha cozinha?
Mas quando a porta se abriu ela foi jogada num salão. Um imenso tigre surgiu e perguntou-lhe:

-- Você prefere trabalhar ou morrer?

A patroa preferiu viver. Porém, como no paraíso dos gatos o tempo é eterno, lá ela continua e continuará a trabalhar até o fim do mundo.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Uma historinha para reflexão

John Milton (1608-1674)

Depois que o poeta inglês Milton se tornou cego e resolveu ler os clássicos, ele ensinou suas filhas a decodificar textos em grego, embora elas não pudessem compreender uma só palavra desse idioma. Podemos afirmar que Milton estava lendo? E as filhas de Milton, estariam lendo?

Entrei em contato com esta historinha para reflexão sobre o significado da leitura num curso de mediação de leitura, realizado pela equipe da A cor da Letra, e achei tão linda que decidi compartilhar com vocês.
Um grande abraço!

domingo, 21 de agosto de 2011

A Moura torta

http://www.jangadabrasil.com.br/setembro/im10900a.htm - Acesso em 21 de agosto de 2011


A história da moura torta em duas versões. A primeira, na versão de Sílvio Romero, de 1885, e a segunda, de Ruth Guimarães, da década de 1980.


Esta é a versão de Sílvio Romero

Era uma vez havia um pai que tinha três filhos, e, não tendo outra cousa que lhes dar, deu a cada um uma melancia, quando eles quiseram sair de casa para ganhar a sua vida. O pai lhes tinha recomendado que não abrissem as frutas senão em lugar onde houvesse água.
O mais velho dos moços, quando foi ver o que dava a sua sina, estando ainda perto de casa, não se conteve e abriu a sua melancia. Pulou de dentro uma moça muito bonita, dizendo: "Dai-me água, ou dai-me leite". O rapaz não achava nem uma coisa nem outra; a moça caiu para trás e morreu.
O irmão do meio, quando chegou a sua vez, se achando não muito longe de casa, abriu também a sua melancia, e saiu de dentro uma moça ainda mais bonita do que a outra; pediu água ou leite, e o rapaz não achando nem uma coisa nem outra, ela caiu para trás e morreu.
Quando o caçula partiu para ganhar a sua vida, foi mais esperto e só abriu a sua melancia perto de uma fonte. No abrí-la pulou de dentro uma moça ainda mais bonita do que as duas primeiras, e foi dizendo: "Quero água ou leite". O moço foi à fonte, trouxe água e ela bebeu a se fartar. Mas a moça estava nua, e então o rapaz disse a ela que subisse em um pé de árvore que havia ali perto da fonte, enquanto ele ia buscar a roupa para lhe dar. A moça subiu e se escondeu nas ramagens.
Veio uma moura torta buscar água, e vendo na água o retrato de uma moça tão bonita, pensou que fosse o seu e pôs-se a dizer: "Que desaforo! Pois eu sendo uma moça tão bonita, andar carregando água…!" Atirou com o pote no chão e arrebentou-o. Chegando em casa sem água e nem pote levou um repelão muito forte, e a senhora mandou-a buscar água outra vez; mas na fonte fez o mesmo, e quebrou o outro pote. Terceira vez fez o mesmo, e a moça, não se podendo conter, deu uma gargalhada.
A moura torta, espantada, olhou para cima e disse: "Ah! É você, minha netinha!… Deixe eu lhe catar um piolho". E foi logo trepando pela árvore arriba, e foi catar a cabeça da moça. Infincou-lhe um alfinete, e a moça virou numa pombinha e avoou! A moura torta então ficou no lugar dela. O moço, quando chegou, achou aquela mudança tamanha e estranhou; mas a moura torta lhe disse: "O que quer? Foi o sol que me queimou!… Você custou tanto a vir me buscar!"
Partiram para o palácio, onde se casou. A pombinha então costumava voar por perto do palácio, e se punha no jardim a dizer: "Jardineiro, jardineiro, como vai o rei, meu senhor, com a sua moura torta?" E fugia. Até que o jardineiro contou ao rei, que, meio desconfiado, mandou armar um laço de diamante para prendê-la, mas a pombinha não caiu. Mandou armar um de ouro, e nada; um de prata, e nada; afinal, um de visgo, e ela caiu. Foram levá-la, que muito a apreciou. Passados tempos, a moura torta fingiu-se pejada e pôs matos abaixo para comer a pombinha. No dia em que deviam botá-la na panela, o rei, com pena, se pôs a catá-la, e encontrou-lhe aquele carocinho na cabecinha, e, pensando ser uma pulga, foi puxando e saiu o alfinete e pulou lá aquela moça linda como os amores. O rei conheceu a sua bela princesa. Casaram-se, e a moura torta morreu amarrada nos rabos de dois burros bravos lascada pelo meio.


(Extraído de ROMERO, Sílvio. Contos populares do Brasil.)

sábado, 13 de agosto de 2011

O baú de Anansi


http://www.valdosta.edu/~clmaxwell/global.html - Acesso em 13 de agosto de 2011

Olá!
Em homenagem ao início da nova turma da Oficina de contadores de histórias do CME Adamastor, deixo uma versão da história do Baú de Anansi aqui no nosso Baú de histórias. Como toda história tradicional, mudam alguns nomes, algumas circunstâncias, mas o tronco da história permanece.


Esta versão, retirei-a do seguinte site:
http://merafantasia.blogspot.com/2008/05/anansi.html - acesso em 13 de agosto de 2011


      Certa vez, quando já não tinha mais histórias para contar na Terra, Anansi teceu uma longa trama que ia do solo até alcançar o céu. Lá se dirigiu à um castelo, tendo em vista compras as histórias guardadas em uma urna de ouro pelo deus do céu Nyankonpon. Ao entrar, todos ficaram paralisados, pois muitos conheciam as histórias de Anansi, mas nunca tiveram a oportunidade de vê-lo. Porém, quando avisou qual era seu intuito, todos se postaram a gargalhar! Nyankonpon riu e zombou do desejo de Anansi, mas lhe propôs um acordo: Anansi teria de levar até o castelo Onini, a grande jibóia; Osebo, o leopardo de dentes terríveis; Mmboro, as vespas que picam como fogo e por fim Mmoatia, o espírito que nenhum homem viu. Até aquele momento, nenhum homem conseguiu realizar tais provas, mas Anansi não se intimidou e ofereceu além de completar esses desafios, sua própria mãe.
      De volta à sua casa, Anansi, com o auxílio de sua mulher Aso, se pôs a pensar em como realizar essas provas. Chegou na conclusão em como capturar Onini, para isso teria de ter um galho de palmeira e um pouco de trepadeira, assim os dois se dirigiram para o riacho onde Onini costumava se banhar. Próximos dela, ficaram discutindo se "o galho era ou não do tamanho de Onini"; o plano deu certo, pois curiosa, Onini fez questão de ir auxiliá-los com essa questão, deitando-se sobre o galho. Anansi não perdeu a oportunidade e a prendeu com a trepadeira.


      Novamente, Aso ajudou Anansi à chegar em um resposta para capturar dessa vez as vespas. Anansi, com uma folha de bananeira e um cabala cheia de água, aproximou-se das Mmboro; aproveitamento um momento de distração dessas, atirou todo o conteúdo da cabala para o alto, colocou a folha sobre a cabeça e gritou "Venham, venham! Está chovendo e vocês se ficarem aí, vão molhar suas asas, entrem aqui nesse abrigo!". Nem preciso dizer que o "abrigo" era a cabala que Anansi tampou com a folha de bananeira.

      No caso da captura de Osebo, o leopardo, bastou à Anansi cavar um buraco, tecer uma teia bem forte no fundo dele e depois tapá-lo com folhas, pois assim no dia seguinte Osebo já estava lá preso. Agora faltava apenas Mmoatia, o espírito que nenhum homem viu. Depois de pensar muito, achou um galho caído por um raio e teve uma brilhante idéia. Pediu para Aso preparar o mais delicioso mingau de mandioca, enquanto isso talhou um boneco de forma humana com o galho achado. Anansi se dirigiu então para o local onde sabia que o espírito apareceria para dançar, lá colocou o boneco juntamente do prato com mingau, mas não antes de cobrir o boneco com um líquido pegajoso.

      Mmoatia, depois de um tempo, apareceu e encontrou o estranho boneco com um saboroso prato de mingau. Irritado com o fato do boneco não lhe oferecer o petisco, Mmoatia deu um tapa em sua cabeça, mas acabou ficando com a mão presa! Deu outro tapa e ficou mais preso ainda; por fim com um chute derrubou o prato de mingau, que tanto queria, e ficou tão grudado que não conseguiu mais se soltar. Anansi então juntou todas suas capturas e foi buscar sua mãe. No dia seguinte tramou uma nova teia entre o solo e o céu e foi buscar seu prêmio.

      O deus Nyankonpon ficou muito surpreso com a capacidade de Anansi, pois ele não passava de um jovem miúdo e fraco. Com muito gosto então lhe concedeu a urna de ouro, onde todas as histórias do mundo estavam guardadas. Anansi, de volta à sua aldeia, dividiu então essa e todas outras histórias com o resto do mundo.