Em 05 e 08 de outubro aconteceram as reuniões das Rodas de Leitura - ciclo culinária, enfocando o romance A viagem de cem passos, de Richard C. Morais.
No Espaço 308 tivemos o privilégio de experimentar a geleia caseira de uvaia que o João Canobre serviu com torradas e chá. Um charme. Infelizmente não consegui tirar fotos do encontro, de modo que, de novo, só temos foto da reunião no Espaço Novo Mundo. Mas vamos às discussões:
- O próprio autor é um exemplo de globalização: filho de portugueses, formado na Suiça, correspondente internacional da revista Forbes e, atualmente, residente nos Estados Unidos. O protagonista de seu romance, Hassan Haji, é baseado em um de seus amigos
- O romance é narrado em primeira pessoa (lembrei aos participantes que o exemplo mais famoso deste tipo de narração é Dom Casmurro, do saudoso Machado de Assis, em que o uso do narrador protagonista reforça a impressão de dubiedade da realidade, pois ela é vista do ponto de vista do narrador). Isso é especialmente importante na 4a.parte do romance (Paris) quando o protagonista-narrador fala a respeito de sua carreira como chef de cozinha e dono de restaurante: ele tem a nítida impressão que foi apadrinhado, tanto por sua mestra, Madame Mallory quanto por seu amigo Paul Verdun. Madame Mallory nega qualquer influência no sucesso do pupilo, mas ele continua com essa dúvida até o final, e nós com ele
- Um dos participantes citou que algo que o impressionou no romance é a atmosfera cheia de aromas, temperos e perfumes, que são muito citados o tempo todo
- Muitos dos participantes perceberam o quanto a família é importante no romance, de fato, comentei com eles que muitos romances que tratam de culinária falam de família de uma forma bem positiva
- Muitos também gostaram muito mais do personagem Abbas Haji (pai de Hassan), um deles chegou a dizer que achava-o bem mais interessante que o filho
- Nas discussões a respeito deste livro não usei o tradicional esquema jornalístico, mas a discussão fluiu bem
- Perguntei-lhes qual parte do livro eles acharam mais fraca ou inconsistente e alguns apontaram a parte da greve de fome de Madame Mallory, eu achei que a parte da conversão desta foi muito forçada
- Obviamente que alguns não gostaram muito da narração do sacrifício do porco ou do modo como os gansos são alimentados à força para a obtenção de fígados engordurados para o foie gras
- Algo que eu percebi no romance foi que o autor, jornalisticamente, é bem real no meio de toda a descrição culinária: ele fala da abissal diferença social na Índia, da disparidade de costumes entre oriente e ocidente, dos efeitos do luto, da xenofobia que assola a Europa e, particularmente, a França, a questão da importância comercial das estrelas do Guia Michelin, cozinha tradicional x cozinha molecular, a crise econômica global em 2008, o roteiro de uma manifestação popular (nessa parte eu dei risada quando li, tão parecido com as manifestações atuais!!). No meio do encantamento, os fatos jornalísticos
- Eu só achei estranho uma coisa: no começo do livro, Hassan diz que nasceu em 1975. Quando o romance termina, ele está com 42 ou 43 anos. Some a idade dele à data em que nasceu e temos 2017 ou 2018. Isso não é esquisito?
- De modo geral, todos gostaram bastante da leitura, ou seja, missão cumprida!!
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