Ontem, 24 de junho, 2a,feira, realizou-se na Livraria Nobel do Espaço Novo Mundo o último encontro da Roda de Leitura a respeito da cadeia produtiva do livro.
Mais uma vez, esqueci-me de tirar as fotos do encontro.
Quis terminar este ciclo com um livro que falasse da importância da biblioteca familiar, de se ter livros em casa, do prazer da leitura individual. E como estamos no mês de junho (quando se comemora o Dia do Imigrante Japonês), não pude deixar de indicar a leitura deste livro.
Comecei falando da trajetoria da autora, Lucia Hiratsuka, que, como eu, é nikkey. Lendo o livro dela, não pude deixar de pensar na minha própria mãe, que nasceu em 1941. A personagem Sayuri é um pouco mais velha que minha mãe, mas a infância de ambas é muito parecida.
Bom, voltando ao encontro de ontem, citei algumas obras anteriores da autora, como os recontos ilustrados de contos tradicionais japoneses, como a Mulher Raposa, a Yukionna, etc. O que considero uma guinada na carreira da autora é Lin e o outro lado do bambuzal, onde ela utiliza a figura folclórica da raposa transmorfa (kitsune) numa história original. Também citei as histórias caipiras.
Perguntei a cada participante qual o trecho mais impactante e as respostas foram variadas:
- O enterro dos livros
- O fato de Sayuri ter escondido um livro
- O empenho dos pais de Sayuri e da própria Sayuri em estudar
- O valor dado à escola e ao aprendizado
- Um dos participantes citou que se lembrou da própria infância no interior quando leu o livro
- Outra participante citou que, como cresceu no Nordeste, só teve contato com os nikkeys quando chegou a São Paulo
- O final inesperado (todos da família de Sayuri tinham reservado um livro escondido)
Recolhidas as impressões individuais dos leitores comecei a falar a respeito do contexto histórico do texto:
- A imigração japonesa no Brasil como uma colonização de exploração, já que muitos que vieram pretendiam apenas enriquecer no Brasil e depois voltar para o Japão
- O isolamento decorrente do meio rural e da falta de desejo de se deixar assimilar pela cultura local
- O dilema da 2a.geração, ou seja, dos filhos dos japoneses que nasceram aqui
- A guerra, que mesmo sendo do outro lado do mundo, influenciava as relações dos japoneses e dos brasileiros
Todo este contexto está explicitado na trama, do ponto de vista de uma criança em idade escolar. Ressaltei que as marcações de tempo e espaço são coerentes com a escolha de quem seria o narrador protagonista: o tempo é marcado por ocasiões memoráveis a uma criança em idade escolar (desde que enterramos os livros, passou-se mais de três anos, a caminhada para a escola dependendo do formato da lua, o casamento de Hanae, que não teve festa, no ano novo, nestes dias frios é bom ficar perto do fogão, etc.) A geografia também é coerente com a idade de quem narra os fatos: a casa, o quintal, a goiabeira, a mangueira do sítio vizinho, o caminho para a escola improvisada, a 2a.escola improvisada, que é mais perto, a caminhada para a escola da Fazenda São Pedro, etc.)
Lembremos que este livro foi originalmente publicado para um público infantojuvenil.
Lembremos que este livro foi originalmente publicado para um público infantojuvenil.
Eu disse aos participantes de que "bons livros infantis agradam a todos, inclusive às crianças" e que "não podemos confundir livro infantil com livro imbecil". Eu me lembro de ter ouvido essas frases nos encontros de incentivo a leitura e achei bacana divulgar, pena que agora eu não lembro de quem ouvi.
Perguntei aos participantes se o ciclo Cadeia produtiva do livro ajudou-os em seu exercício profissional e muitos disseram que sim, que agregou valor.
Sendo assim, missão cumprida.