segunda-feira, 30 de maio de 2011
Senhor Palha da Sorte - conto tradicional japonês
Olá, decidi postar esta história porque é uma das minhas preferidas desta antologia (veja a referência no final).
Sempre que posso, faço o reconto oral.
Uma excelente leitura!
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- Muito bem, um ramo de palha é algo sem valor, mas parece que eu estava destinado a apanhar este, de modo que vou levá-lo comigo. - disse ele.
Enquanto Shobei seguia seu caminho, levando o ramo de palha que apanhou em sua mão, uma libélula veio até ele voando. Ela fazia círculos ao redor de sua cabeça.
- Que peste! - reclamou – Vou ensinar a esta libélula a não me incomodar! Foi quando Shobei agarrou a libélula. Não demorou muito para encontrar uma mulher, caminhando com seu filho. Quando o garotinho viu a libélula, quis tê-la.
- Mãe, eu quero aquela libélula. Por favor, por favor, por favor! - pediu ele.
- Aqui está, garotinho, você pode ficar com a libélula! - disse Shobei, estendendo-a ao garoto. Em retribuição, a mãe do garotinho deu três laranjas a Shobei. Ele agradeceu e prosseguiu a jornada.
Logo depois, Shobei encontrou um vendedor ambulante descansando na estrada. O vendedor tinha tanta sede que estava prestes a desmaiar. Não havia poços de água nos arredores. Shobei sentiu muita pena do ambulante e deu-lhe as três laranjas para que ele pudesse beber seu suco.
O vendedor ficou muitíssimo grato, e em troca deu a Shobei três peças de tecido que levava para o mercado. Ele agradeceu e seguiu seu caminho.
Enquanto caminhava, Shobei encontrou uma bela carruagem com muitos serviçais. A carruagem pertencia à princesa, que se dirigia a cidade. A princesa olhou de repente para fora da carruagem e viu as belas peças de roupa que Shobei carregava. Ela disse:
- Oh, que peças de tecido lindíssimas você traz consigo! Por favor, deixe-me ficar com elas.
Shobei deu à princesa as três peças de tecido e, em agradecimento, ela lhe deu um grande saco de moedas.
Shobei pegou as moedas, e com elas comprou muitos campos para cultivo. Depois dividiu os campos entre as pessoas de seu vilarejo. Assim, todos puderam ter seu próprio pedaço de chão, e trabalharam com afinco.
O vilarejo tornou-se próspero, e muitas casas novas foram construídas. Todos ficavam espantados ao se lembrar que essa prosperidade teve início com um ramo de palha que Shobei apanhara.
Shobei virou o homem mais importante do vilarejo, e todos o respeitavam imensamente. Enquanto viveu, todos se dirigiam a ele como Senhor Palha da Sorte.
SAKADE, Florence (org.); KUROSAKI, Yoshisuke (ilust.) As histórias preferidas das crianças japonesas, v.1. São Paulo, JBC, 2005. p.69-72
sábado, 28 de maio de 2011
Roda de Leitura do Vidas secas na Gerúndio Edições - Último encontro
Após minha aventura na USP Leste, eis que voltei para Guarulhos e fui para a Gerúndio Edições, no bairro do Cocaia.
Hoje terminamos a leitura mediada de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, com a leitura dos capítulos Sinhá Vitória, Um mundo coberto de penas e Fuga, uma vez que no último encontro concentramo-nos nos capítulos onde o personagem Fabiano era o protagonista.
Impossível não comentar a respeito da diferença entre a psique do homem e da mulher, no tocante a questões domésticas e visão de futuro, a questão do Cangaço (levemente abordada por Graciliano) e a migração para o Sudeste, devido ao fenômeno da seca.
Ficamos felizes por terminar a leitura do livro e já estamos programando os próximos encontros.
Para adiantar a divulgação, decidimos que o próximo livro a ser lido será Uma questão pessoal, do escritor japonês Kenzaburo Oe (laureado com o Prêmio Nobel de Literatura de 1994), publicado aqui no Brasil em 2003 pela editora Companhia das Letras. Uma singela homenagem do grupo ao 18 de junho (quando se comemora o Dia do Imigrante Japonês).
Feira de livros da USP Leste - Eu estive lá!
Imagine só: feira de livros com 50% de desconto, bem perto de Guarulhos (pelo menos, comparativamente com a Cidade Universitária) e aberta no sábado!!
É claro que eu não perderia esta chance!
De Guarulhos para a USP Leste, por transporte público é assim: peguei o ônibus intermunicipal 139 (Guarulhos-São Miguel) e desci no ponto próximo a estação Ermelino Matarazzo, peguei o trem sentido Brás e desci na próxima estação (USP Leste). Gente, existe uma saída que me deixa dentro do campus!! Uma facilidade!
A distribuição dos prédios no campus USP Leste é como na Cidade Universitária: prédios imponentes com muito espaço verde entre si.
Quando entrei no prédio onde ocorria a feira, surpreendi-me com o pé direito e com os quadros, bem joviais.
Olhe só quem encontro na Feira: o cordelista Varneci Nascimento!
Ele estava representando a editora Luzeiro, especializada em folhetos de cordel.
Foi uma surpresa muito agradável.
Os cordelistas Josué Gonçalves de Araújo e Varneci Nascimento
Eu e o cordelista Varneci Nascimento na banca da editora Luzeiro.
Para terminar: comprei vários livros excelentes e há muito tempo almejados por metade do preço.
Isso encorajou-me a pensar na próxima edição da Festa dos Livros da USP (esta na Cidade Universitárias, em novembro).
terça-feira, 24 de maio de 2011
A raposa e o camponês, versão de Lucia Hiratsuka de um conto tradicional
Olá!
Li esta versão do motivo folclórico da Esposa Raposa na Revista Recreio e apaixonei-me por ela. Lembro-me de ter lido, há mais de 10 anos, uma outra versão, do Neil Gaiman, uma graphic novel chamada Os caçadores de sonhos.
E um terapeuta japonês junguiano chamado Hayao Kawai escreveu um capítulo a respeito das "Mulheres não humanas" em seu livro A psique japonesa. Referências bibliográficas no final.
Boa leitura!!
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Mukashi...
O amarelo dourado ia avançando aos poucos. E o vento brincava, como uma criança que não se cansa. Era mais um início de outono.
Uma estrada estreita seguia cheia de curvas e por ela um jovem camponês caminhava, carregando suas compras.
“Falta muito pouco para chegar a casa.” O rapaz parou debaixo de uma das árvores frondosas, recostou-se e avistou a montanha ao longe. O campo, as árvores, toda a paisagem vibrava de cor, anunciando a nova estação.
Estava ele descansando da longa caminhada. Ouviu leve ruído. Seria apenas o vento brincando? Não, algo se mexia no meio dos capins altos e secos.
“Uma raposa!” O jovem admirou o animal de cauda longa e pelos amarelados, quase se confundindo com a vegetação.
Foi quando uma sombra ameaçadora surgiu de trás da árvore. Era um caçador, que apontava sua arma. O camponês, vendo que o outro estava prestes a atirar, tossiu alto. Num instante o animal fugiu, desaparecendo em meio às touceiras de capim
-- Idiota! Você tinha que atrapalhar? Esperei horas por esse momento!
-- Sinto muito...
-- Como vai me reparar essa perda?
-- Não tenho dinheiro.
-- Então, me dê o que tem aí!
Que jeito senão lhe obedecer? Entregou toda a compra. Mais calmo, o caçador deu-se por satisfeito e foi embora, carregando o saco nas costas.
“Era a compra do mês”, lamentou-se o rapaz. Mas voltou para casa feliz por ter salvado a vida do animal. Naquele dia, sua refeição foi apenas um cozido de nabo com arroz. Pelo menos isso ele conseguia em sua roça, o que o deixava mais tranquilo.
E passavam os dias. Da casa para roça, da roça para casa, sem novidades. As árvores iam-se avermelhando, contrastando com o céu sem nuvens.
Era uma noite como as outras. Enquanto o jovem preparava a comida, ouviu batidas na porta. Foi abrir. E teve uma surpresa: estava parada, em frente à casa, uma moça muito bonita, nunca vista na região.
-- Eu ia até a cidade, mas escureceu e não tenho onde dormir. Pode me ajudar? – perguntou ela.
-- É uma casa simples. Caso não se importe...
E o rapaz, meio sem graça, dividiu com ela seu simples jantar.
“Como é que uma moça viaja assim sozinha?” Ele observou discretamente o rosto bonito à luz do fogareiro. Para um homem solitário, uma companhia feminina era sempre agradável. O arroz com nabo pareceu-lhe bem mais saboroso.
Na manhã seguinte, a moça preparou-lhe a refeição. Tudo muito simples, mas delicioso. Assim que terminaram de comer, ela lhe disse:
-- Na verdade, não tenho para onde ir. Meus pais morreram e pensei em trabalhar na cidade... só que nem sei onde.
-- Gostaria de ajudá-la, mas sou tão pobre...
-- Por favor, deixe-me ficar. Posso cuidar da casa, ajudar na roça.
Tanto insistiu, que ele aceitou. Era uma companhia que lhe agradava.
Logo se surpreendeu com a disposição dela para o trabalho. Cuidava de todo o serviço da casa e ajudava nas plantações. Também começou a fazer chinelos e chapéus de palha, que o jovem pôde vender na cidade, melhorando em muito a vida deles.
Veio mais um outono. Para completar a harmonia, nasceu-lhe um filho, menino forte e bonito. Poderia haver felicidade maior? Uma mulher a quem amava e um filho que crescia cada dia mais esperto, alegrando a casa com seu riso e suas travessuras.
Muitos outonos chegavam e iam, alternando-se as estações. O garoto completou seis anos.
Um dia, o marido havia saído para a cidade. A mulher ia arrumar a casa e pediu ao filho:
-- Vá brincar perto da castanheira.
-- Está bem, mamãe.
Por algum tempo o menino brincou sozinho, mas sentiu falta de companhia e voltou para chamar a mãe. Concentrada nos afazeres, ela não lhe percebeu a presença. Cantarolava baixinho e varria as folhas secas colhidas pelo vento durante a noite.
-- Mamãe tem uma cauda! – gritou o menino.
-- Imediatamente a mulher recolheu a longa cauda de raposa com a qual varria o chão.
-- Ah, você descobriu... – disse ao filho, tão assustado quanto ela própria. – Agora que você sabe de tudo, eu não posso mais ficar aqui.
O menino, chorando, tentou segurá-la, mas em vão. O homem voltava nesse instante e viu a mulher transformando-se. Uma raposa? Como aquela que vira há muito tempo.
Já distante explicou:
-- Um dia salvou minha vida! Quis agradecer. Agora preciso ir...
Pai e filho chamaram, imploraram.
-- Por favor, volte! Fique com a gente, sempre.
Mas a raposa distanciava-se cada vez mais, olhando para trás de vez em quando. Em silêncio, despedia-se dos amados.
E sua figura fundiu-se ao amarelado dos capins. Era mais um início de outono.
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1. HIRATSUKA, Lucia. Histórias de Mukashi: contos populares do Japão. 2a. ed. São Paulo, Elementar, 2008. p.7-14
2.GAIMAN, Neil; PELIZZARI, Daniel (trad.) Os caçadores de sonhos. 4a.ed. São Paulo, Conrad do Brasil, 2005. 132p.
3. KAWAI, Hayao; GERHEIM, Gustavo (trad.) A psique japonesa: grandes temas dos contos de fadas japoneses. São Paulo, Paulus, 2007. p.139-162 (Amor e psique)
domingo, 22 de maio de 2011
Quaresmeira em frente ao prédio da Natura, na Rua Luiz Faccini
Este é um belo exemplar de quaresmeira rosa, surpreendentemente florido no outono (sua época normal de esplendor é no verão).
Intervenção urbana no tronco
As flores ao vivo são mais róseas, é só nas fotos que elas estão mais arroxeadas.
Flamboyanzinho na Rua Luiz Faccini
Gosto muito de flamboyants e este exemplar de flamboyanzinho, que fica dentro de um estacionamento da Luis Faccini, bem perto da calçada, é fascinante.
Pé de café, na esquina da Rua Nilópolis com Avenida João Veloso da Silva, em Cidade Jardim Cumbica
Ok, não é exatamente uma árvore, mas quis registrar porque pés de café fazem parte da história da minha família: minha mãe falava muito de sua infância nas fazendas cafeeiras do Oeste Paulista, quando ela participava tanto do plantio quanto da colheita do café.
Foi ela que me ensinou a identificar um pé de café.
A oficina de Marias da Débora Kikuti continua!!
Eu, particularmente, acho maravilhoso ter um encontro onde podemos conversar tendo como enfoque a valorização do feminino. O grupo é diversificado em crenças e opiniões, mas sempre há algo que temos em comum.
É a Débora é excelente na mediação destes encontros.
Obrigada, Débora!
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